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Na escola da Camila todas as salas têm o 'espaço da leitura'. No 1º ano foi pedido aos pais livros e almofadas. A Camila volta e meia leva um livro para a professora ler e fica por lá longas temporadas para que todos o possam ler. Não se esperou pelo plano nacional de leitura. Uma medida mediática que 'obriga' a ler. Como se o gosto pela leitura fosse adquirido por decreto-lei. Gastam-se, gastaram-se e vão-se gastar, milhões de euros com o plano de incentivo à leitura, no combate à crescente iliteracia, mas os exames nacionais de português e as provas de aferição são de escolha múltipla. Cruzes? Chumbam no 9º ano com negativas a português e a matemática, mas nos anos anteriores passaram sempre, mesmo não sabendo nada...mas nada mesmo, como é que querem que estejam preparados no 9º? As contradições são imensas no ensino básico...e por mais planos que inventem, as crianças vão continuar a ser MAL FORMADAS.
A escola da Camila vai vivendo e imaginando soluções para a promoção da leitura.... o fórum de discussão na net sobre os trabalhos desenvolvidos na área de projecto, a visita anual à feira do livro, as leituras da professora Mucha, a visita de escritores, ir à net ler a
História do Dia, a leitura de livros da biblioteca da escola e preenchimento da respectiva ficha de leitura. Idênticas e muito mais articuladas com o meio do que as genéricas ideias da comissão.
Mas a escola nº 29 é uma ilha mágica, uma alegre mistura dos putos problemáticos da freguesia de S. José com os filhos da classe média que vive no centro de Lisboa, apesar de tudo, que somos nós, artistas e boémios ainda cheios de sonhos e poesia... O pior é o que está para vir.
Estou seriamente a pensar em retirar as minhas filhas do degradado sistema educativo português, cheio de contradições e de comissões e que não funciona. A tendência é para piorar com as novas medidas de avaliação dos alunos: premeia-se a mediocridade e a preguiça, em nome do sucesso escolar fictício. Actualmente é necessário três pareceres para o aluno ficar retido, o que implica um procedimento burocrático complicado. O parecer do encarregado de educação, o parecer do conselho de turma e o parecer máximo, decisivo, o do conselho pedagógico. Só falta ir ao gabinete da ministra para a
Maria de Lurdes decidir com o s seus assessores, se o Ruben passa com 7 negativas e a Sheila com 9.
Outro factor do meu descrédito do sistema educativo são as provas de aferição que testam o conhecimento dos alunos portugueses no final de cada ciclo. Este ano, a Escola nº 29, foi contemplada com a realização das provas de matemática e português do 4º ano. A professora Mucha na semana passada, resolveu testar os seus alunos do 3ºA com as mesmas provas. Correu muito bem, disse a Camila,são muito fáceis, mãe, até a C.I ( criança com necessidades educativas especiais, mal sabe ler e escrever no 3º ano) conseguiu fazer tudo!! Como é que eu vou acreditar num sistema mediocre e facilitador que vicia os resultados para que estatisticamente o sucesso escolar aumente, para comprovar que afinal as medidas adoptadas pelos governantes são adequadas, quando o não são?
A primeira a sair do sistema e estudar noutra língua será certamente a Camila.