sábado, junho 03, 2006
o descrédito
Na escola da Camila todas as salas têm o 'espaço da leitura'. No 1º ano foi pedido aos pais livros e almofadas. A Camila volta e meia leva um livro para a professora ler e fica por lá longas temporadas para que todos o possam ler. Não se esperou pelo plano nacional de leitura. Uma medida mediática que 'obriga' a ler. Como se o gosto pela leitura fosse adquirido por decreto-lei. Gastam-se, gastaram-se e vão-se gastar, milhões de euros com o plano de incentivo à leitura, no combate à crescente iliteracia, mas os exames nacionais de português e as provas de aferição são de escolha múltipla. Cruzes? Chumbam no 9º ano com negativas a português e a matemática, mas nos anos anteriores passaram sempre, mesmo não sabendo nada...mas nada mesmo, como é que querem que estejam preparados no 9º? As contradições são imensas no ensino básico...e por mais planos que inventem, as crianças vão continuar a ser MAL FORMADAS.
A escola da Camila vai vivendo e imaginando soluções para a promoção da leitura.... o fórum de discussão na net sobre os trabalhos desenvolvidos na área de projecto, a visita anual à feira do livro, as leituras da professora Mucha, a visita de escritores, ir à net ler a História do Dia, a leitura de livros da biblioteca da escola e preenchimento da respectiva ficha de leitura. Idênticas e muito mais articuladas com o meio do que as genéricas ideias da comissão.
Mas a escola nº 29 é uma ilha mágica, uma alegre mistura dos putos problemáticos da freguesia de S. José com os filhos da classe média que vive no centro de Lisboa, apesar de tudo, que somos nós, artistas e boémios ainda cheios de sonhos e poesia... O pior é o que está para vir.
Estou seriamente a pensar em retirar as minhas filhas do degradado sistema educativo português, cheio de contradições e de comissões e que não funciona. A tendência é para piorar com as novas medidas de avaliação dos alunos: premeia-se a mediocridade e a preguiça, em nome do sucesso escolar fictício. Actualmente é necessário três pareceres para o aluno ficar retido, o que implica um procedimento burocrático complicado. O parecer do encarregado de educação, o parecer do conselho de turma e o parecer máximo, decisivo, o do conselho pedagógico. Só falta ir ao gabinete da ministra para a Maria de Lurdes decidir com o s seus assessores, se o Ruben passa com 7 negativas e a Sheila com 9.
Outro factor do meu descrédito do sistema educativo são as provas de aferição que testam o conhecimento dos alunos portugueses no final de cada ciclo. Este ano, a Escola nº 29, foi contemplada com a realização das provas de matemática e português do 4º ano. A professora Mucha na semana passada, resolveu testar os seus alunos do 3ºA com as mesmas provas. Correu muito bem, disse a Camila,são muito fáceis, mãe, até a C.I ( criança com necessidades educativas especiais, mal sabe ler e escrever no 3º ano) conseguiu fazer tudo!! Como é que eu vou acreditar num sistema mediocre e facilitador que vicia os resultados para que estatisticamente o sucesso escolar aumente, para comprovar que afinal as medidas adoptadas pelos governantes são adequadas, quando o não são?
A primeira a sair do sistema e estudar noutra língua será certamente a Camila.
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11 comentários:
A "arte das artes"...
Entretanto a mãe da Camila, a Alice, entrou na Selecção Nacional..."Só" mas acompanhada...
Alice, não entres em pânico com o "sistema". Cada escola e cada turma é diferente. O que interessa é se a criança se sente bem, porque se gostar da escola gostará de aprender...
Como é que acreditas tão facilmente no que a tua tenra criança conta...? Aliás, podes verificar se as provas de aferição são assim tão fáceis e pertencem a esse "sistema mediocre e facilitador que vicia os resultados para que estatisticamente o sucesso escolar aumente": http://www.gave.pt/afericao/2004/pafericaolp1ciclo2004.pdf
Se a escola da tua filha te satisfaz, pelo que dizes, como podes "seriamente a pensar em retirar as minhas filhas do degradado sistema educativo português"? Não será isso uma falta de consideração pelas professoras que têm? Não estarás a confundir propaganda e má-língua com a realidade?
Nunca vi que o conselho pedagógico tivesse poder decisório na retenção de um aluno - onde está essa regra? Parece-me bem que uma decisão dessas deva ser bem ponderada - se fosse o caso da tua filha, pensarias o mesmo - e até compensada por aquilo que se chama plano de recuperação (cuja legislação podes ver em http://www.netprof.pt/netprof/servlet/getDocumento?TemaID=NPL030102&id_versao=15008). Estará o sistema de ensino assim tão degradado? No teu tempo havia apoio escolar?
A escola são as pessoas que a frequentam e não uma ministra que está a aquecer o lugar e a fazer o papel de criadita para todo o serviço.
Tal como muitos dos seus antecessores no cargo também esta senhora tem como objectivo principal sanear as contas e poupar uns cobres.
Ainda por cima dá jeito para meter medo às criancinhas. Se trabalhasse num infantário, sempre que as criancinhas se recusassem a comer a sopa havia de dizer-lhes: "Olha que chamo sua excelência a ministra!" Uma maravilha pedagógica certamente.
O problema da degradação são os mil e um malabarismos ' pedagógicos' que os professores são OBRIGADOS a fazerem para os meninos progredirem de ano. Esses planos de recuperação muitas vezes não recuperam ninguém e estamos de facto a formar crianças que soletram no 8º ano. A degradação do ensino não são os PROFESSORES como esta ministra populista quer fazer crer. MAS O SISTEMA EM SI.Delineado não pelos professores mas pelos sucessivos gabinetes e comissões que regulam as normas que os professores são obrigados a cumprir e a engolir sapos verdes. O sistema está nivelado pela MEDIOCRIDADE. Cheio de planos de recuperação, objectivos minimos,e de burocracia para travar as retenções.
E concordo com a maria Filomena mónica que diz que esses gabinetes e comissões deveriam ser extintos com napalm!!
A degradação da educação do país é um sintoma da degradação SOCIAL, mas essa comparação e análise não convém fazer.
Claro que o objectivo é de reduzir as despesas do estado com a educação e deixar esse papel para o sector privado. Como já acontece nas creches, as IPS, salvo erro, o estado financia quem não pode pagar.
Desculpa, Alice, discordar, não quero ser desagradável, mas, para simplificar a coisa, diria que os problemas de aprendizagem são diferentes em cada criança e têm origem - estatisticamnte falando, não como regra - na família onde nasceram e na sua escolaridade e cultura. Simples demais, talvez. Mas difícil de resolver. Não acredito no "sistema" como não acredito em deus. Há as pessoas só.
la, podes não concordar com o sistema como eu, mas tens de concordar que muitos putos saem da escolaridade obrigatória iliterados, é um facto comprovado. E que o insucesso escolar está directamente ligado ao insucesso do país.
Bem, continuando esta agradável polémica: é verdade que os miúdos saem da escola sem saber ler, mas a culpa não é da escola, as causas estarão na pequena infância que tiveram, no ambiente socio-familiar em que vivem, na fome que passam... O insucesso escolar é um indicador de atraso social, isso sim, como outros, não há dúvida, mas não acho que todo o país seja um insucesso, não acho mesmo que se possa generalizar assim. Há 30 anos era muito pior.
ok, eu sei. Os pobres não iam à escola. A escola tem muitas fragilidades, mas não é cultivando o policiamento e o terror na classe docente que se altera o estado das coisas. E com sounds bites: Ontem por exemplo o Sócrates e a Lurdes anunciaram que as escolas do básico iam ter educação musical. Mas já têm! a camila já tem educação musical no 1º ciclo e o 2º ciclo também, Ainda não li jornais para percerber o que afinal pretendem.Alargar ao 3º ciclo? Parece-me mera propaganda. E quanto ás tentativas de burocratizar o processo das reuniões e das retenções é verdade. A aprovação pelo Conselho pedagógico é mesmo necessária, no ensino básico.
Querida Alice, este teu post deveria ser enviado directamente ao gabinete da srª ministra!
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